Depois dos meus dois últimos artigos
sobre depressão e suicídio fiquei estarrecida (uso este termo por falta de um
melhor) com o número de mulheres, entre 30 e 60 anos que consideram a
depressão, doença considerada o “mal do século”, como “chilique”, “falta do que
fazer” e outras coisas mais que prefiro nem comentar. Que tristeza!
Então, já que estamos na geração que tem
preguiça de ler e se informar, resolvi recolher dados científicos e tentar
ajudar essas pessoas a olharem para dentro de si e para as pessoas ao seu
redor. Se isso for possível.
Homens, mulheres e crianças, do mundo
inteiro, independente de raça ou condição social estão sujeitos a passar por
isso. “Estima-se que sua prevalência ao longo da vida, na população geral,
situe-se em torno de 15%. Ou seja, entre 100 pessoas da população, 15 já
apresentaram ou apresentam episódios depressivos durante suas vidas... Sem um
tratamento adequado, a depressão apresenta um curso crônico e recorrente.
Estima-se que após o primeiro episódio o risco de recorrências seja de 50%;
após o segundo episódio este risco se eleva para 70-80% e após três episódios
depressivos, o risco de episódios seguintes é de 90%” segundo a psiquiatra Márcia
Britto de Macedo Soares.
Sim, são números, baseados em pesquisas.
Ainda segundo o mesmo artigo, “dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a
depressão é a primeira causa de incapacitação entre todas as doenças médicas.
Ocupa a quarta posição entre todas as causas que contribuem para a carga global
de doenças, de acordo com o "Global Burden of Diseases Project" da
OMS, correspondendo a 4,4% dos anos de vida vividos com incapacitação. Para os
indivíduos que estão na faixa etária compreendida entre 15 e 44 anos, a depressão
é responsável por 8,6% dos anos vividos com incapacitação”.
Sim, neste número se engloba as pessoas
que consideram o problema um “chilique” ou “falta do que fazer”. E a psiquiatra
continua: “a comorbidade com a depressão agrava os índices de saúde de qualquer
doença médica. Um estudo conduzido pela OMS que recrutou mais de 200.000
participantes com idades acima de 18 anos, em diferentes países do mundo,
indicou que a depressão, isoladamente, produziu a maior redução nos índices de
saúde, quando comparada àquela causada pelas doenças crônicas como angina,
artrite, asma e diabete, isoladamente. Mais ainda, a comorbidade com a
depressão piorou os índices de saúde de qualquer uma destas condições isoladas,
aumentando seus riscos”.
“Concluindo, a depressão é uma das
doenças médicas mais frequentes, e acarreta importantes prejuízos pessoais,
ocupacionais, econômicos e sociais, além de se relacionar à maior morbidade e
mortalidade por outras doenças clínicas, se não tratada. Portanto, sua
identificação precoce e a instituição de um tratamento adequado, que leve à
remissão dos sintomas, é fundamental”, afirmou a mesma.
Segundo OMS, 121 milhões de pessoas
sofrem de depressão em todo o mundo e o Brasil ocupa o primeiro lugar no
ranking da prevalência da doença em países em desenvolvimento. Mais números.
121 milhões de pessoas sofrendo de depressão, gritando por ajuda em um mundo leigo,
onde as pessoas consideram um problema de saúde pública como “chilique” ou “falta
do que fazer”.
Para quem se foca tanto no bem estar dos
outros (carreira, namorado, filhos) e esquece do próximo e de si mesmo, aí vai um alerta: a
psiquiatra Susan Abram, da Universidade da Carolina do Norte, constatou que estudos
epidemiológicos são importantes porque trazem o assunto à tona e estimulam o
debate sobre a doença. “É preciso educar melhor as pessoas a respeito da
depressão e de outros distúrbios de humor. Depressão não é tristeza, é uma
doença desafiadora, com taxas de mortalidade maiores que 30%”, diz.
Sentir-se triste com a felicidade do
outro não é normal. Estar sempre de mau humor, pensar somente em trabalho ou
sexo não é normal. Dedicar a vida a apenas uma coisa externa, ignorar a doença
ou trata-la como uma coisa passageira que “enfiando a cara no trabalho ou nos
filhos” não vai resolver, pelo contrário, protela e piora a situação.
Um estudo do IBGE analisou brasileiros
com 18 anos ou mais comprovou que 61,8 milhões, somente este ano, 2016, sofrem
de algum tipo de depressão.
Então, para você que considera a doença
como “mimimi”, que faz textões sobre falta de Deus ao ver uma notícia de suicídio
ou bullying, que considera “fresca” uma pessoa que está sempre triste ou mau
humorada (e esta pessoa pode ser você mesmo) aí vai mais um alerta: ninguém
opta por ficar doente.
E ao invés de perder tempo criticando e
julgando essas pessoas, olhe para dentro de você e ao seu redor. Talvez tenha
muita gente ao seu lado que necessita de uma palavra de conforto e não um
julgamento. Talvez você se foque tanto no trabalho e se mantenha “tão ocupada
que não tem tempo para essa palhaçada”, como disse uma leitora, que quando se
der conta, ou perder este trabalho ou seus filhos saírem de casa (sim, os filhos
crescem, viu?), verá que você estava apenas fugindo dos
seus monstros interiores por medo de enfrentar.
Acorde enquanto é tempo. Seja menos
egoísta. Doe mais tempo a você e, em seguida, ás pessoas que você ama. Você não
é o juiz da vida de ninguém. Então, dedique mais tempo a se informar sobre você
e sobre os males que tem acabado com tantas vidas, no lugar de ficar julgando e
tratando assuntos como depressão, suicídio e bullyng como “frescura”. Suas palavras
e ações são um espelho bem claro do que você é por dentro. E se você não
consegue ter empatia por si mesmo ou pelo outro, você precisa, urgentemente de
ajuda. E pode, sim, estar com depressão. Deixe o ego de lado e se cuide.
Namaste
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